“Brasil Conquista Seu Primeiro Oscar com Filme Impactante”
O Brasil fez história ao conquistar seu primeiro Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro com uma obra emocionante sobre a ditadura. Em seu discurso, o diretor Walter Salles dedicou o prêmio à advogada Eunice Paiva, uma figura essencial na luta
O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, fez história ao conquistar o Oscar de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo, 2. Esta vitória marca a primeira vez que o Brasil leva o prêmio, considerado o maior reconhecimento do cinema mundial. O longa também esteve presente em outras categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz, graças à atuação de Fernanda Torres.
Ao receber a estatueta, Salles fez questão de dedicar o prêmio à advogada Eunice Paiva, figura central no filme, interpretada por Fernanda Torres. “Obrigado ao cinema brasileiro. Estou honrado em receber este prêmio de um grupo extraordinário de cineastas. Este prêmio vai para uma mulher que, até o final de um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Isso vai para ela. Seu nome é Eunice Paiva. E vai para as duas mulheres extraordinárias que a viveram, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, afirmou o diretor.
Eunice Paiva, uma advogada incansável, dedicou sua vida à defesa dos perseguidos políticos e à preservação da memória daqueles que, como o filme retrata, não podem ser esquecidos. O longa conta a história do desaparecimento de Rubens Paiva, parlamentar e militante político, durante a década de 1970, e sua família, que se viu forçada a se reinventar após o trauma.
A protagonista, Eunice Paiva, foi viúva desde 1973 e transformou sua dor em força, ingressando na faculdade de Direito e se tornando uma das maiores especialistas em Direito Indígena do país. Sua atuação foi crucial na Constituinte de 1988, defendendo a autonomia dos povos indígenas.
A vitória de “Ainda Estou Aqui” também tem grande relevância política, refletindo conquistas importantes para a família Paiva e para a luta pelos direitos humanos no Brasil. Em janeiro deste ano, a família conseguiu a retificação da certidão de óbito de Rubens Paiva, reconhecendo oficialmente que sua morte foi resultado da violência do Estado durante o regime militar. Além disso, o filme reabriu o debate sobre a aplicação da Lei de Anistia, com o Supremo Tribunal Federal (STF) decidindo que deverá avaliar a constitucionalidade da lei em casos de crimes permanentes, como o de ocultação de cadáver.
Rubens Paiva (1929-1971) foi um engenheiro civil e deputado federal pelo PTB, cassado após o golpe militar de 1964. Em 1971, foi preso e levado ao DOI-Codi, onde foi torturado e morto, com seu corpo desaparecendo até ser confirmado pela Comissão Nacional da Verdade em 2012.
Eunice Paiva (1929-2018) foi uma advogada e ativista pelos direitos humanos. Após o desaparecimento de seu marido, dedicou-se à busca pela verdade e pela responsabilização dos culpados. Formou-se em Direito aos 47 anos, tornou-se uma das maiores especialistas em direito indígena e teve papel crucial na aprovação da Lei 9.140/95, que reconheceu os desaparecidos políticos. Ela também influenciou a Constituição de 1988 e foi uma defensora de políticas de reparação e memória histórica.